11/03/13

Depoimento - 9

O que seria da Universidade sem utopia?

Por Maria José Casa-Nova, Mandatária da Lista A - Universidade Cidadã

Ao longo da minha carreira académica sempre me dediquei ao estudo do que poderia designar como objectos científicos marginais dentro das Ciências Sociais, nomeadamente os estudos de género (feminino) e de minorias étnico-culturais. Esta tentativa de tornar central problemáticas marginais dentro das Ciências Sociais, está também subjacente à minha decisão de aceitar ser Mandatária da candidatura da Lista A – Universidade Cidadã – ao Conselho Geral da Universidade do Minho. Uma candidatura com uma ideia consistente de Universidade, considerada por vários colegas como “utópica”; um mero exercício de retórica sem relevância para a academia porque sem “lugar” no seio dela.
Creio que nos cumpre interrogar o que seria da Universidade sem utopia. A utopia, enquanto lugar em construção, está para a pessoa que habita o/a investigador/a como o pensamento divergente está para o/a investigador/a que habita a pessoa. Sem utopia e pensamento divergente, cairíamos num realismo castrador e claustrofóbico, tornando a Universidade moribunda, destituindo-a do sentido primeiro da sua existência: produzir ciência que permita a humanização das sociedades. Estranha Universidade aquela cujo conhecimento produzido se limitasse ao realismo; cuja teoria não permitisse construir caminhos para além dos existentes! Sem utopia, qualquer versão do futuro não seria mais do que a repetição do presente, travestido de outras roupagens. O futuro constrói-se através da utopia. E tendo em atenção que todo o presente é passado que projecta o futuro, utopia e pensamento divergente têm de ser intrínsecos à mente do/a investigador/a! Uma “segunda pele” sem a qual não se respira Universidade.
Esta é a utopia da Universidade Cidadã. E, dentro desta, a Universidade Cidadã tem a utopia de trazer para o cerne das suas preocupações o quotidiano da Universidade, tornando central aquilo que, de tão naturalizado do ponto de vista da sua ausência, se tornou periférico dentro dela: articular investigação e docência inovadora e de qualidade com o bem-estar da pessoa que habita o investigador e a investigadora; os produtores de ciência; os transformadores do conhecimento em significados relevantes para todos aqueles e aquelas que pretendem aprender. Sem bem-estar e motivação da pessoa que habita o/a investigador/a, teremos uma ciência em sobre-salto e uma docência sem alma; teremos um operariado intelectual anónimo, regulado e vigiado por uma espécie de neo-burocracia informática omnipresente e opressiva.
A Universidade Cidadã tem a utopia de querer transformar o poder, democratizando-o, aprofundando assim a democracia participativa. Fazer parte da Universidade Cidadã é saber que temos a possibilidade de participar no governo da Universidade; que seremos, não meros eleitores e eleitoras, mas participantes activos na tomada de decisão; é tornar efectivamente a Universidade de todos e de todas; é construir uma Universidade de investigadores/as que habitam pessoas e de pessoas que habitam investigadores/as; é transformar a Universidade no “topos da utopia” concretizável. Depende de nós torná-lo regularmente realidade, ao ponto de este “topos da utopia” realizável ser tão natural e necessário à sobrevivência Universitária, como o ar que respiramos para a sobrevivência física. Aí, teremos verdadeiramente Universitas.

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