Por Isabel Estrada, Professora da Escola de Economia e Gestão
Ao iniciar a reflexão sobre cidadania com os meus alunos no âmbito de uma unidade curricular do segundo semestre, convidei-os a imaginar que decantavam o conceito como se de um vinho se tratasse. A intenção era que, das primeiras definições em que não faltariam (como não faltaram) referências a deveres, direitos, vínculos, e pertenças, fossem capazes de chegar por si mesmos não a um depósito de tempo e de impurezas, mas a uma espécie de essência da coisa.
No fim da breve metáfora, concluíram que cidadania é, antes de mais, relação. Relação de enorme complexidade que encontra todavia no indivíduo a unidade primeira e última da sua construção. Na leitura dos meus alunos, é entre relação e indivíduo que se encontra a essência decantada da cidadania.
Concordo com eles e acrescento que é essa também a essência de uma universidade.
Uma universidade, para o ser, tem de se assumir no seu quotidiano como espaço-tempo de relações, de partilhas, de intersubjectividades, de confrontos e de consensos que se geram no exercício do debate aberto e plural.
O contrário é e será sempre a sua negação. Uma universidade é pois, antes de tudo mais, espaço de excelência para o exercício activo da cidadania. À luz deste entendimento, assisto por isso com muita satisfação ao debate gerado a pretexto das eleições para o Conselho Geral da Universidade do Minho, em torno de múltiplas ideias e projectos de qualidade.
Ao subscrever a Lista A não o faço pois por ausência de bons projectos e de boas ideias, nem tão pouco por oposição a nada nem a ninguém. Faço-o outrossim, por acreditar que desta forma contribuo para o sublinhar público da importância de uma premissa em particular. Uma premissa que de tão tácita à praxis universitária, enfrenta todavia e ironicamente o risco de ser obliterada senão insistentemente explicitada: a universidade é feita por e deve ser feita para as pessoas.
Não obstante a simplicidade da ideia, o que predomina é, não raras vezes, a inversão desta ordem. Assim se compreende, por exemplo, que o indivíduo em contexto académico viva na tensão permanente de edificar a sua identidade profissional e epistémica por obediência a critérios-dogmas na produção do seu conhecimento científico e pedagógico. No afã de uma criação conformada a rankings e a métricas várias, parece não ver que os critérios-dogmas a que se obriga e a que é obrigado, escoram o que no fundo mais não são do que linguagens de demonstração de poder sujeitas à fatal contingência das geoculturas que as sustentam.
Todas as vozes que activamente buscam a reabilitação da premissa que aqui enuncio nos termos e na forma mais simples que me ocorrem, são e serão por isso cada vez mais necessárias ao esforço de relembrança sobre o que é a essência identitária das universidades.
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