Não obstante considerar que certas teses do movimento universidade cidadã precisam de ser mais discutidas e evidenciadas empiricamente – por exemplo, o big brother tecnológico ou a deriva para a submissão pragmática a poderes e interesses privados - apoio a Lista A, sobretudo pela satisfação que me dá ver um movimento que apesar de me parecer em determinados momentos discursivos algo inflexível nas suas posições ideológicas e propostas políticas, se caracteriza, contudo, por uma admirável atitude académica e cívica de profunda disponibilidade para o debate, a sério, de questões efectivamente sérias. Há, portanto, um estilo académico, uma atitude, um empenhamento, um inconformismo de “rebeldes com causa” com que me identifico.
Apoio a Lista A por reconhecer relevância e credibilidade à luta do movimento universidade cidadã contra determinadas tendências e dinâmicas que, no limite, e sem oposição consequente - podem pôr em causa uma certa concepção de universidade – humanista, livre-pensadora, solidária, irreverente face aos poderes – uma certa concepção da pedagogia universitária e do professor universitário, como académico - uma certa concepção da governação da universidade.
Uma das coisas que mais me impressiona e agrada no movimento é o facto de as suas propostas radicarem numa representação, numa ideia (teórica e ideologicamente distintiva, logo não consensual) de universidade.
É essa ancoragem que torna impossível ao movimento aceitar, sem mais, a redução da universidade a outra coisa qualquer, a uma empresa, a uma fábrica, a um centro de produção ou venda de qualquer coisa. Há um legado histórico, valores, tradições, e modos de articulação com a sociedade (particularmente nas sociedades abertas e democráticas) que não podem ser simplesmente postos de lado em nome da produtividade, da rentabilidade, ou da garantia de financiamento a todo o custo. É este enquadramento (que implica também a capacidade de assumir a crítica em relação a muitos aspectos da ‘universidade tradicional’) que dá sentido às grandes preocupações e temas do movimento, que confluem na proposta de construção de:
- uma universidade sintonizada com valores, regras e procedimentos democráticos;
- uma universidade com governação fortemente participada;
- uma universidade pública na qual as políticas de desenvolvimento sejam confrontadas com as exigências de consideração do interesse público;
- uma universidade que recusa a burocratização da pedagogia;
- uma universidade que recusa a imposição autoritária e/ou tecnocrática de políticas e objectivos.
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