Maria José Casa-Nova *
No passado dia 03 de Junho tomaram posse os membros externos
do novo Conselho Geral da Universidade do Minho. Como foi divulgado pela
academia, a cooptação dos membros externos obedeceu a um conjunto de critérios
que contribuiu para uma heterogeneidade dos seus membros, certamente
enriquecedora do debate, das reflexões e das decisões a tomar em torno dos destinos
da UM.
Findo o processo eleitoral e de cooptação dos membros
externos e analisando a sua composição numa perspectiva de paridade de género,
constatamos que a desigualdade flagrante existente no antigo Conselho Geral (5
mulheres em 23 elementos) foi ligeiramente atenuada (7 mulheres em 23
elementos), ficando ainda aquém do estipulado na paradoxalmente designada “Lei
da Paridade” (Lei Orgânica 3/2006, 21 de Agosto) dado esta apenas vincular uma
representação de 33% de ambos os sexos e apenas no que diz respeito às listas
eleitorais para a Assembleia da República, para o Parlamento Europeu e para as
autarquias locais. “Paridade” significaria uma representação de 50% e não os
33% que estipula, percentagem que está longe de ser alcançada na constituição
do Conselho Geral, próxima dos 33% pelo facto de os representantes eleitos pelo
Movimento Universidade Cidadã serem constituídos por 50% de mulheres e de, na
cooptação dos membros externos, se ter finalmente convidado duas mulheres,
obedecendo ao “politicamente correcto”, mas não a critérios de justiça que
deveriam ser intrínsecos a uma sociedade regida por um sistema democrático.
Saliente-se, no entanto, que a extensão do convite a
mulheres da sociedade civil aparece vinculado ao compromisso assumido pela
Lista A – Universidade Cidadã -, quer no seu ideário, quer nos debates públicos
realizados na UM a propósito das eleições para o Conselho Geral.
Representando as mulheres 52,2% da população portuguesa
residente (dados dos censos de 2011), a sua visibilidade no espaço público
continua a ser comparativamente diminuta, facto que aparece socialmente
naturalizado, obrigando à elaboração de argumentação credível para produzir o
consentimento desejado face à escolha de mulheres para o exercício de determinados
cargos já que a competência dos homens aparece como intrínseca e inquestionável
e a competência das mulheres aparece como carecendo de evidência. Se não for
proporcionado um lugar às mulheres que, por mérito próprio, começam a emergir para
além da esfera privada, estas permanecerão ausentes da ágora, espaço estruturalmente (e naturalmente) dominado pelos
homens. E essa ausência (a par da ausência de outras vozes pertencentes a
grupos socio-culturais despossuídos dos diferentes tipos de poder socialmente
valorizados) enfraquece a participação crítica, impede o aprofundamento da democracia.
Para um debate mais plural e democrático, a heterogeneidade
de vozes é fundamental. E enquanto essa heterogeneidade e pluralidade de vozes não
fizer naturalmente parte da ágora, a
democracia permanecerá refém de um modelo de sociedade assente na norma
impositiva, ancestralmente construída da dominância masculina branca, remetendo
para a periferia todas as outras vozes quotidianamente sub-ditas, nas quais se
inclui a reduzida participação feminina na esfera pública.
Não podendo deixar de lamentar profundamente a ausência de
paridade de género, saúdo no entanto a entrada de mulheres da sociedade civil
no Conselho Geral e desejo a todas e a todos, nestes tempos de incerteza e de
extrema vulnerabilidade e fragilidade sociais, um mandato de uma firmeza serena
e de uma ponderação arrojada. A bem da academia que faz a Universidade do Minho
e da sociedade de que todos e todas fazemos parte.