28/11/07

Aí está o primeiro grande debate…

Elevação, dignidade e esclarecimento, foram as palavras de encerramento usadas pelo Professor António Sousa Miranda, moderador do debate ontem ocorrido em Azurém, entre as listas A e B candidatas à Assembleia Estatutária da Universidade do Minho, para caracterizar o primeiro grande momento de esclarecimento do período eleitoral que a nossa academia está viver por estes próximos e breves dias. Perante uma assistência de cerca de sessenta/setenta professores e funcionários, os “cabeças de lista” A e B, respectivamente, os Professores António Cunha e Licínio Lima, tiveram oportunidade, e de facto conseguiram-no, de exprimir os ideários e as principais linhas de orientação que justificam as candidaturas que representam.
De um modo sintético, e sem ter a presunção de esgotar as diferentes perspectivas, com o apoio do colega Pedro Oliveira, relatem-se alguns dos momentos mais marcantes do debate:

- a intervenção de abertura coube ao colega Licínio Lima que enunciou as nossas ideias mais mobilizadoras e estimulantes:
- Uma universidade forte é uma universidade legitimada democraticamente - A convicção de que uma universidade sitiada não resulta de uma questão de organização, mas antes de uma concepção política, que tem margens de soberania ao nosso alcance. Há que exercer as faculdades da cidadania na universidade como modo de potenciar as virtudes da autonomia.

- O colega António Cunha, evidenciou a convicção que a democratização do conhecimento, em particular, se tem feito por via do desenvolvimento tecnológico, das suas potencialidades e acesso.
- Acentuou a ideia de que a lista A apresentou uma proposta concreta por contraposição à lista B que, na sua perspectiva, não o fez.
- Licínio Lima, rejeitando a insinuação de falta de clareza, afirmou ser necessário antes de tudo começar por discutir o modelo de universidade e não diluir o debate em minudências gestionárias. Primeiro discutir as fundações do modelo e missão da universidade e só depois os acabamentos, isto é, a composição dos órgãos, os números, etc.
- Adiantou que a proposta declarada da lista A reduzia os departamentos a cinzas, já que a estes somente caberia eleger o director, aprovar o plano de actividades e o respectivo relatório.
- António Cunha reiterando desconhecer as propostas concretas da lista B, exprimiu a sua incomodidade perante o que designou como tentativa da lista B se apropriar da democracia como uma exclusividade que é negada à lista A.
- António Cunha face à acusação de que o modelo de estatutos da Lista A estava praticamente feito, ainda que admitisse que vem trabalhando sobre o assunto desde há dois ou três meses, expressou não ter qualquer dúvida que estas propostas virão a ser muito alteradas.
- Licínio Lima questionou a pertinência de um Presidente de Escola ter de ser obrigatoriamente um Professor Catedrático e advogou a ideia de que um futuro Conselho Disciplinar deverá ser uma Comissão do Senado e não uma competência dependente de um qualquer órgão de gestão.
- A uma pergunta onde se pedia que fosse caracterizado o modelo de gestão de cada lista. Licínio Lima respondeu que o modelo da lista B defendia uma universidade diversificada, policêntrica, dando lugar ao dissenso e outras formas de dirimir os conflitos, acrescentando - " não queremos conquistar o poder, queremos transformar o poder". O modelo da Lista A é um modelo técnico racional de gestão, que pressupõe a existência de um óptimo organizacional algo quimérico.
- Nas intervenções finais, António Cunha referiu que "era necessário dosear o idealismo com o pragmatismo e com a realidade e os recursos de que dispomos; rematando que a lista B não é detentora do purismo ideológico, da concepção justa de Universidade, na medida que é a investigação que a valida ".
Licínio Lima terminou referindo que a universidade não tem que se por de joelhos perante o mercado. A Universidade tendo que deixar de ser uma torre de marfim não tem necessariamente de passar a ser uma estação de serviço.
- Com a lista A, os departamentos passam de células básicas a basicamente nada. O programa da Lista A tem de facto muitas indefinições porque, por exemplo, não esclarece quais são os centros de investigação que passam a ser unidades autónomas de investigação e quais os centros que passam a integrar as unidades de ensino e investigação. Ainda em referência ao texto da Lista A, onde se afirma, relativamente aos órgãos colegiais das unidades orgânicas, "caso existam", compreende antes de tudo que algumas não terão autonomia. Isto é, ficarão circunscritas ao sabor do arbítrio.
Se é verdade que o hábito do debate e do contraditório de ideias, não sendo propriamente uma imagem de marca da nossa Universidade, colheu de início uma assistência algo passiva e expectante, as primeiras perguntas saídas da assistência estimularam a expressão de uma maior clareza no tocante às diferenças substantivas das listas. De facto, os monólogos iniciais condicionados ao formato do debate, aparentemente indistintos no plano do discurso dos princípios, puderam vir a ser aclarados por força das questões colocadas pelos participantes, ficando demonstrada assim a eficácia e a utilidade dos debates democráticos na vida da academia. Para lá da suposição preconcebida de que os atributos da fundamentação conceptual vs pragmatismo operativo se repartiam entre as listas em presença, a inversão dos papeis no final do debate revelou a importância de continuarmos atentos ao confronto de ideias e à compreensão das razões e práticas que estão para além dos discursos. Deste debate ficou evidente que o presente sufrágio não vai caucionar nenhuma política executiva para universidade, mas antes e muito mais do que isso, como referiu um dos colegas intervenientes, vamos todos definir a natureza e o alcance da universidade que queremos para os próximos 10/15 anos. Isto é, a deliberação da Universidade do Minho que iremos ter no período de uma geração.
Mais do que todos os juízos ou virtualidades que possamos fazer de um debate, diga-se já de si histórico, testemunhamos a importância que se reveste para o futuro da nossa Universidade a participação de todos em momentos decisivos como este. Por isso é muito importante que todos participemos no segundo grande encontro deste curtíssimo período de esclarecimento eleitoral. Vão lá e vão ver que vale a pena.

Miguel Melo Bandeira

Sem comentários: