06/03/13

Depoimentos - 4

Para um sentido completo de Universidade

Por Emília Araújo, Professora do Instituto de Ciências Sociais 

O conhecimento é sempre muito mais do que o que se corporiza em objectos e produtos tangíveis. Expande-se sobre os processos, a qualidade das relações, os modos de estar e de pensar, de aprender e de formar, assim como como sobre a sustentabilidade das políticas. É, por isso, fundamental assumir que o sentido completo de universidade reside na forma como o conhecimento é, na sua globalidade, objecto de gestão, análise e transferência multidisciplinar, tanto dentro da universidade, como na relação desta com o meio envolvente e com outras universidades e organizações, no espaço internacional.
Dois dos problemas identificados sobre a Ciência em Portugal, relacionados com o seu potencial de impacto no meio envolvente e com o seu grau de internacionalização prendem-se com a dispersão de esforços, interesses e estratégias e com a debilidade de alinhamento das potencialidades das áreas científicas na construção de objectivos adaptados a ambas as respostas que, apesar de tudo, não coincidem perfeitamente entre si: uma coisa é a interacção com a comunidade envolvente; outra é o lugar da universidade no mercado científico e tecnológico internacional, reflectido, entre outras, na capacidade de atração de públicos de outros países, assim como de investimento, em geral.
É neste sentido – o da concentração de esforços, sem descaracterização do potencial das diferentes áreas científicas – que os modos de gestão organizacional do conhecimento nos tempos que correm implicam sinergias a vários níveis entre escolas e áreas científicas que não se compadecem com idiossincrasias e voluntarismos individuais, mas residem em estratégias políticas de inter e multidisciplinariedade consistentes com os desígnios e objectivos que se pretendem atingir.
Através da inter e na multidisciplinaridade é obviamente mais provável que as respostas aos problemas das sociedades no presente e no futuro sejam mais consistentes, ajustadas e satisfatórias. É obviamente mais provável que se possam gerar outras condições de sustentabilidade da universidade e das suas relações com os seus diversos “meios envolventes”. Para que isso aconteça, todo o conhecimento – na sua produção, disseminação e transferência - precisa de ser considerado o motivo central de qualquer ação, tática e/ou estratégia.
Adoptando-se uma visão integrada e verdadeiramente multidisciplinar, a universidade surgirá mais preparada para evitar, tanto o empobrecimento científico e pedagógico de todos os seus projetos, como desigualdades internas cientificamente não articuláveis com o desígnio da construção de uma universidade legitimada (e no) meio que a insere.

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