07/03/13

Depoimentos - 5

Lista A: "Uma força crítica mas dialogante na luta por uma universidade plural e dinâmica"

     Por Carlos Gomes, Professor do Instituto de Educação

Não obstante considerar que certas teses do movimento universidade cidadã precisam de ser mais discutidas e evidenciadas empiricamente – por exemplo, o big brother tecnológico ou a deriva para a submissão pragmática a poderes e interesses privados - apoio a Lista A, sobretudo pela satisfação que me dá ver um movimento que apesar de me parecer em determinados momentos discursivos algo inflexível nas suas posições ideológicas e propostas políticas, se caracteriza, contudo, por uma admirável atitude académica e cívica de profunda disponibilidade para o debate, a sério, de questões efectivamente sérias. Há, portanto, um estilo académico, uma atitude, um empenhamento, um inconformismo de “rebeldes com causa” com que me identifico.
Apoio a Lista A por reconhecer relevância e credibilidade à luta do movimento universidade cidadã contra determinadas tendências e dinâmicas que, no limite, e sem oposição consequente - podem pôr em causa uma certa concepção de universidade – humanista, livre-pensadora, solidária, irreverente face aos poderes – uma certa concepção da pedagogia universitária e do professor universitário, como académico - uma certa concepção da governação da universidade.
Uma das coisas que mais me impressiona e agrada no movimento é o facto de as suas propostas radicarem numa representação, numa ideia (teórica e ideologicamente distintiva, logo não consensual) de universidade.
É essa ancoragem que torna impossível ao movimento aceitar, sem mais, a redução da universidade a outra coisa qualquer, a uma empresa, a uma fábrica, a um centro de produção ou venda de qualquer coisa. Há um legado histórico, valores, tradições, e modos de articulação com a sociedade (particularmente nas sociedades abertas e democráticas) que não podem ser simplesmente postos de lado em nome da produtividade, da rentabilidade, ou da garantia de financiamento a todo o custo. É este enquadramento (que implica também a capacidade de assumir a crítica em relação a muitos aspectos da ‘universidade tradicional’) que dá sentido às grandes preocupações e temas do movimento, que confluem na proposta de construção de:
  • uma universidade sintonizada com valores, regras e procedimentos democráticos; 
  • uma universidade com governação fortemente participada; 
  • uma universidade pública na qual as políticas de desenvolvimento sejam confrontadas com as exigências de consideração do interesse público; 
  • uma universidade que recusa a burocratização da pedagogia; 
  • uma universidade que recusa a imposição autoritária e/ou tecnocrática de políticas e objectivos. 
Finalmente, um factor decisivo no meu apoio: numa recente reunião dedicada à apresentação da Lista fiquei a saber que na leitura dos representantes do movimento no Conselho Geral o movimento soube, ao longo da presente “legislatura” assumir a crítica, a dissensão, mas também o diálogo, a cooperação, a negociação com outras forças igualmente democráticas, e, à sua maneira, igualmente interessadas em construir o sucesso da sua concepção de universidade. A disponibilidade da Lista A para se assumir como uma força crítica mas dialogante na luta por uma universidade plural e dinâmica é para mim fundamental.

Sem comentários: